BOLSA DE ESTUDOS - MEXT - DEPOIMENTOS



Depoimento [bolsista - MARIo RIBEIRO LARANGEIRA JUNIOR]

“Ler as notícias de um jornal escrito em japonês”. Esta era uma das idéias que coloquei na cabeça. Obviamente, meu objetivo principal é concluir o mestrado e, eventualmente, o doutorado, mas do ponto de vista cultural, viver em um país por um período longo é uma oportunidade muito boa para aprender a língua.
Na época do embarque, o meu japonês se limitava aos carecteres do hiragana e katakana, somados a estes, havia também o incrível número de 10 (10!!) kanji estudados à exaustão.

Durante a tarde de orientação promovida pelo Consulado, estava uma repórter japonesa que veio me entrevistar. Na ocasião, fui um dos primeiros a ser entrevistado. Já haviam me alertado que ela não falava nem inglês nem português, somente japonês e italiano, e logo pensei “eu, com o meu inglês e português, e ela, com o japonês e italiano,  conseguiremos conversar”. Não preciso dizer que depois dos primeiros cinco minutos, tive que pedir ajuda para um intérprete. E este foi o meu primeiro “contato real” com o Japão.

A equipe do meu laboratório em Tokyo é composta quase inteiramente por japoneses, as exceções são eu e um suíço. Pela dificuldade da língua, achei que poderia ficar excluído do grupo, mas não é o que acontece. Apesar de termos o curso intensivo de japonês logo na chegada, é no laboratório que praticava e ainda pratico mais o idioma. Além disso, meus colegas me ensinam palavras novas e me ajudam em algumas aulas do mestrado que são em japonês.

No primeiro semestre do mestrado, metade das minhas aulas foi em japonês, as demais, em inglês. Já no segundo, todas foram em japonês. No caso da minha área de estudo, ainda há uma terceira “língua”, a matemática, que por diversas vezes ajuda na compreensão das aulas e seminários. Profissionalmente, a experiência está sendo bastante proveitosa e tende a melhorar ainda mais à medida que começo a ter mais contato com a comunidade científica.

Culturalmente, a experiência é sem precedentes e extrapola as fronteiras do próprio Japão. A condição de aluno internacional na faculdade propicia continuamente a chance de encontrar e fazer amizade com pessoas dos mais diversos países bem como a chance de ver outros pontos de vista e maneiras diferentes de pensar aos quais não se está acostumado.

E como resultado, muitas vezes aprende-se o óbvio, que em dias de intolerância e terrorismo não é tão óbvio assim, como por exemplo: governos são governos e pessoas são pessoas. Ou seja, se um regime é tachado de autoritário e extremista, não significa que todas as pessoas desse país irão apresentar comportamentos semelhantes. E no final, você pode até mesmo ser amigo de várias dessas pessoas.
Além disso, é normal começar a se preocupar quando aparece uma notícia na televisão sobre um terremoto ou um tsunami devastador naquele país que até bem pouco tempo atrás era obscuro e desconhecido, porque dentre as vítimas pode estar toda a família daquele colega que tu encontras pra conversar no campus todos os dias.

Além dessa nova visão que a amizade entre pessoas de países diferentes proporciona, é preciso refletir que ser um aluno internacional e bolsista no Japão é uma condição privilegiada, visto que os estudos de pós-graduação são muito caros, e também porque, diferentemente de um aluno “nacional”, acaba-se por desenvolver um senso crítico mais apurado sobre a socidade em que se vive. Este olhar crítico é fruto do contato com outras sociedades por meio de novos amigos e também de uma vivência anterior fora do país que se está no momento, no caso o Japão, mas o mesmo acontece para o Brasil, quando os estudos acabam e voltamos.

A condição privilegiada também traz responsabilidades, as quais fazem de cada bolsista uma espécie de referência, seja sobre a área de estudo, sobre o Brasil ou até mesmo sobre o Japão, dependendo, é claro, de onde se esteja no momento. No Japão as perguntas são sobre o Brasil, mas quando se conversa com brasileiros que estão no Brasil as perguntas são sobre o Japão.

É normal sentir os efeitos dessa nova condição por meio destas perguntas. Afinal, tudo relacionado a este país, que é tão diferente da nossa realidade de brasileiros, será perguntado por parentes e amigos que estão no Brasil.

Dentre as várias perguntas, uma das perguntas recorrentes é: “(.) mas e o japonês? Consegue se comunicar?”. E eu respondo, com toda a segurança de quem mora há quase um ano e meio no Japão: “Meu japonês é igual ao de uma criança de 2 anos de idade. Falo tudo errado e não leio nada”.
Isso é o que eu respondo para eles, mas cá entre nós, além de estar no meio do mestrado, eu também já consigo ler alguns poucos textos nas ruas e nos trens.  Não é ainda um jornal mas já fico feliz.

Mario Rebelo Larangeira Junior
é formado em Engenharia de Computação pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA e
atualmente faz mestrado em Criptografia no Instituto Tecnológico de Tokyo – Tokyo Tech no Japão.



MATERIAL COMPLEMENTAR

Estudar fora vale a pena, mas implica riscos

[Fonte:Folha de São Paulo, Caderno de Empregos 14/11/2004]
(clique aqui para ler a matéria)

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Bolsistas 2009 com o Cônsul Geral