INTRODUÇÃO
Duas sensações
consecutivas, aparentemente contraditórias, surgem a uma boa parte
dos bolsistas do Monbukagakusho ao receberem a notícia auspiciosa
de terem sido finalmente contemplados com a bolsa de estudo do Governo
Japonês. A primeira sensação é de extremo contentamento
e euforia pelo fato de, após enfrentar uma árdua competição,
poder enfim realizar os seus objetivos de estudo e pesquisa num país
de primeiro mundo, de grande desenvolvimento econômico e tecnológico.
A outra sensação, imediatamente sucessiva àquela,
é a de preocupação com a responsabilidade assumida
de estudar num centro de alto nível e pela situação
de se expor a um novo ambiente sócio-cultural em um país
estrangeiro.
No decorrer da permanência no Japão, verifica-se que usualmente
essas sensações se diluem rapidamente, absorvidas pelo trabalho
e pela capacidade dos bolsistas brasileiros de se adaptar, com determinada
facilidade em ambientes e condições diferentes.
Ocorrem outras condições de dualidade defrontadas pelos
bolsistas do Monbukagakusho. Eles apresentam uma situação
privilegiada pois têm a oportunidade de desenvolver seus estudos
e pesquisas nas mais conceituadas universidades japonêsas, por um
tempo prolongado, em geral, superior a dois anos. Isto proporciona oportunidades
para, além de obter o aprimoramento na sua área específica
de atuação, também interagir num meio cultural rico,
variado e essencialmente diverso do meio brasileiro.
De volta ao Brasil, o bolsista traz consigo os conhecimentos específicos
do estado de arte da área, com uma visão global de uma sociedade
diferenciada, que lhe permite atuar com senso crítico equilibrado
na abordagem de temas e problemas sociais, culturais, científicos
e tecnológicos brasileiros. O aproveitamento adequado e objetivo
desse potencial alcançado pelo bolsista é um assunto que
deve ser analisado e discutido. De um lado, há o desejo justificado,
do próprio bolsista em oferecer sua colaboração e
de outro lado existem as instituições brasileiras que necessitam
dessa experiência adquirida pelo bolsista. Muitas vezes, a interligação
entre essas duas partes interessadas que produziria um efeito útil
a ambas, constitui um sério problema a ser equacionado, pois pode
levar à frustração de uma e à perda de oportunidade
da outra parte. Neste sentido, a ABMON, através de um processo
sinérgico favorecido pela diversidade de conhecimentos dos bolsistas
especializados em várias áreas, poderá aprimorar
as duas partes e contribuir nas suas interações.
Por outro lado deve-se considerar a importância da continuação
do relacionamento dos bolsistas com o Japão através do Monbukagakusho.
Desta maneira, poderia ser instituído um programa de "continuing
scholar relationship", aplicado pelo próprio Monbukagakusho ou pela Association of International Education, que o representa, e associado
ao bolsista por um prazo longo. O ponto essencial é que o programa
não se exaure num período relativamente breve após
o retorno do bolsista, para permitir a atualização permanente
dos bolsistas e manter constante a interação deles com as
instituições acadêmicas e de pesquisa japonesas. Associações,
como a ABMON, poderiam colaborar na implantação de programas
deste tipo, nos quais, uma das etapas iniciais poderia se constiutir no
estabelecimento de um sistema de informações acadêmicas
e de divulgação de notícias, realizáveis a
curto prazo.
Finalmente, é importante observar que com o potencial científico
e tecnológico atual disponível, e o desenvolvimento esperado
do Brasil, os programas de simples auxílio de um país a
outro, com recebimento subalterno de ajuda, já vão perdendo
seus espaços. Com a política de internacionalização
do Japão, os acordos de cooperação científica
e tecnológica, para estudos e pesquisas conjuntas, mostram-se mais
favoráveis e proveitosos para os países desenvolvidos porque
ambos participam em pé de igualdade, e com os mesmos objetivos,
no desenvolvimento de projetos. Espera-se que os bolsistas do Monbukagakusho,
com os seus conhecidos perfís técnico e ético, possam
contribuir no estabelecimento desses tipos de acordo e, também,
participar de seus projetos.
Este ano, no qual se celebra o centenário do Tratado de Amizade,
Comércio e Navegação, firmado entre o Brasil e o
Japão, pode constituir um marco para iniciar os entendimentos que
visem realizar uma interação profícia de cooperação
entre os dois países, em várias áreas de conhecimento.
E neste ponto, o papel dos bolsistas do Monbukagakusho poderá
ser decisivo na concretização dos acordos de cooperação.
EITARO YAMANE (56).
Foi bolsista do Monbukagakusho no período de 10/67 a 5/69,
na Universidade de Tokyo. Atualmente, Professor Titular e Chefe de Departamento,
no Departamento de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo.
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