ABMON - Associação dos Bolsistas do Governo Japonês – Monbukagakusho

2023/1/18

 

INTRODUÇÃO

   Duas sensações consecutivas, aparentemente contraditórias, surgem a uma boa parte dos bolsistas do Monbukagakusho ao receberem a notícia auspiciosa de terem sido finalmente contemplados com a bolsa de estudo do Governo Japonês. A primeira sensação é de extremo contentamento e euforia pelo fato de, após enfrentar uma árdua competição, poder enfim realizar os seus objetivos de estudo e pesquisa num país de primeiro mundo, de grande desenvolvimento econômico e tecnológico. A outra sensação, imediatamente sucessiva àquela, é a de preocupação com a responsabilidade assumida de estudar num centro de alto nível e pela situação de se expor a um novo ambiente sócio-cultural em um país estrangeiro.

   No decorrer da permanência no Japão, verifica-se que usualmente essas sensações se diluem rapidamente, absorvidas pelo trabalho e pela capacidade dos bolsistas brasileiros de se adaptar, com determinada facilidade em ambientes e condições diferentes.

   Ocorrem outras condições de dualidade defrontadas pelos bolsistas do Monbukagakusho. Eles apresentam uma situação privilegiada pois têm a oportunidade de desenvolver seus estudos e pesquisas nas mais conceituadas universidades japonêsas, por um tempo prolongado, em geral, superior a dois anos. Isto proporciona oportunidades para, além de obter o aprimoramento na sua área específica de atuação, também interagir num meio cultural rico, variado e essencialmente diverso do meio brasileiro.

   De volta ao Brasil, o bolsista traz consigo os conhecimentos específicos do estado de arte da área, com uma visão global de uma sociedade diferenciada, que lhe permite atuar com senso crítico equilibrado na abordagem de temas e problemas sociais, culturais, científicos e tecnológicos brasileiros. O aproveitamento adequado e objetivo desse potencial alcançado pelo bolsista é um assunto que deve ser analisado e discutido. De um lado, há o desejo justificado, do próprio bolsista em oferecer sua colaboração e de outro lado existem as instituições brasileiras que necessitam dessa experiência adquirida pelo bolsista. Muitas vezes, a interligação entre essas duas partes interessadas que produziria um efeito útil a ambas, constitui um sério problema a ser equacionado, pois pode levar à frustração de uma e à perda de oportunidade da outra parte. Neste sentido, a ABMON, através de um processo sinérgico favorecido pela diversidade de conhecimentos dos bolsistas especializados em várias áreas, poderá aprimorar as duas partes e contribuir nas suas interações.

   Por outro lado deve-se considerar a importância da continuação do relacionamento dos bolsistas com o Japão através do Monbukagakusho. Desta maneira, poderia ser instituído um programa de "continuing scholar relationship", aplicado pelo próprio Monbukagakusho ou pela Association of International Education, que o representa, e associado ao bolsista por um prazo longo. O ponto essencial é que o programa não se exaure num período relativamente breve após o retorno do bolsista, para permitir a atualização permanente dos bolsistas e manter constante a interação deles com as instituições acadêmicas e de pesquisa japonesas. Associações, como a ABMON, poderiam colaborar na implantação de programas deste tipo, nos quais, uma das etapas iniciais poderia se constiutir no estabelecimento de um sistema de informações acadêmicas e de divulgação de notícias, realizáveis a curto prazo.

   Finalmente, é importante observar que com o potencial científico e tecnológico atual disponível, e o desenvolvimento esperado do Brasil, os programas de simples auxílio de um país a outro, com recebimento subalterno de ajuda, já vão perdendo seus espaços. Com a política de internacionalização do Japão, os acordos de cooperação científica e tecnológica, para estudos e pesquisas conjuntas, mostram-se mais favoráveis e proveitosos para os países desenvolvidos porque ambos participam em pé de igualdade, e com os mesmos objetivos, no desenvolvimento de projetos. Espera-se que os bolsistas do Monbukagakusho, com os seus conhecidos perfís técnico e ético, possam contribuir no estabelecimento desses tipos de acordo e, também, participar de seus projetos.

   Este ano, no qual se celebra o centenário do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação, firmado entre o Brasil e o Japão, pode constituir um marco para iniciar os entendimentos que visem realizar uma interação profícia de cooperação entre os dois países, em várias áreas de conhecimento. E neste ponto, o papel dos bolsistas do Monbukagakusho poderá ser decisivo na concretização dos acordos de cooperação.

EITARO YAMANE (in memorian). Foi bolsista do Monbukagakusho no período de outubro de 1967 a maio de 1969, na Universidade de Tokyo. Foi Professor Titular e Chefe do Departamento de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.